ENSINO
PÚBLICO ou PRIVADO ?
A querela do ensino público versus ensino
privado, gera, há décadas, paixões e ódios quase incontroláveis, e divide a
fundo os educadores, os partidos políticos e os intelectuais.
Em minha modesta opinião, há
necessidade de reflectir sobre 3 questões quando entramos na análise deste
debate, que será:
1.
Conhecer o conteúdo do que se ensina;
2.
Perceber o papel que o Estado tem, ou
deve ter, no sistema de educação; e
3.
O direito ou não, relativamente à maior
ou menor equidade, que os alunos devem ter no acesso ao sistema de ensino .
Os actores, ou defensores, do modelo
de ensino público preocupam-se e
são defensores acérrimos da equidade no
acesso e do desenvolvimento dos alunos, i.e., todos devem ter as mesmas
oportunidades de acesso a um ensino de qualidade que, no privado, ao ser um ensino
que, ao requer maiores honorários de contrapartida, é um acesso mais
dispendioso, podendo ser uma génese de maiores desigualdades, porquanto é mais limitador
para as famílias de menores rendimentos.
Para os agentes, actores, ou
defensores, do sistema público de ensino, o princípio sagrado de “ uma educação pública, universal
e tendencialmente gratuita ” deve ser mantido a todo o custo. Ora, para
que isso seja possível, é necessário que todos os estudantes tenham direito a
idêntico nível e tipo de educação, independentemente dos seus recursos, de orientações
ideológicas ou religiosas.
Por seu lado, os que defendem o
modelo de ensino privado vêm,
normalmente, como subjacente ao ensino público o fantasma do totalitarismo, do
despesismo sem retorno, do sectarismo e do nivelamento por baixo. A equidade
para estes actores, agentes, não é a questão primordial, já que a sociedade é normal e naturalmente desigual
e, portanto, resultará do posicionamento de cada um, quer quanto às leis
divinas diz respeito, quer relativamente ao esforço e empenho pessoal de cada
um.
Para os defensores do modelo
de ensino privado há outros valores que merecem ser preservados, custe o
que custar, como sejam o ensino da ética, da formação do carácter, i.e.,
aspectos que, dizem eles, no privado estão mais presentes, são mais assegurados!
Nesta perspectiva, de facto, faz
sentido a defesa, pela opção de critérios de liberdade onde as famílias possam optar quanto ao
modelo de ensino, logo, ao tipo de educação que preferem para seus filhos.
Contudo, estes mesmos agentes,
actores, também defendem que existe a necessidade de o Estado, dever ter o
papel de garante, propulsor e supervisor, de todo o sistema, cabendo-lhe o
papel de responsável por assegurar, relativamente a qualquer dos modelos de
ensino, público ou privado, a criação e manutenção de instituições padrão, entidades
que possam servir de referência aos demais agentes.
Portanto, os defensores do modelo
de ensino privado, colocam enfoque na necessidade de uma escola padrão, pública
ou privada, minuciosamente respeitadora da legislação que a balize, em especial
quanto aos conteúdos que deve ministrar aos alunos, evitando o livre arbítrio
dos professores e directores de estabelecimentos, e complementada por um
rigoroso sistema de fiscalização, no sentido de garantir que tudo funciona
conforme o desejado.
Normalmente, os defensores do
ensino público, em geral, não se opõem,
ao ensino privado, desde que ele seja mantido a “custas” dos interessados; caberia, no entanto, ao Estado proporcionar acesso ao ensino a toda a população, em
qualquer lugar do seu território.
Perante tal visão é portanto natural
que os privados exijam ao Estado a contrapartida/compensação, pela manutenção
das conformidades legais, por si impostas, nomeadamente por suprir/fornecer
acesso ao ensino em lugares onde o Estado não pode, não consegue desempenhar o
seu papel, função preenchida pelo ensino privado e, consequentemente, que lhes
sejam subsidiados os custos assumidos com o cumprimento, quer das formalidades,
quer da sua disponibilidade, em regime de substituição.
Aqui tínhamos que chegar, ao “vil
metal”, um aspecto crucial, como não poderia deixar de ser, à questão do financiamento
do ensino, na forma de compensações, ou não, para que os privados, não
beneméritos, nem na assumpção do desempenho do papel, que compete ao Estado, e
assim possam dar cabal cumprimento às necessidades e aspirações de candidatos e
actores/agentes.
Na verdade, na prática, como
sabemos, em grande número de lugares longínquos e recônditos, coube ao ensino
privado o papel, a responsabilidade pela expansão do ensino secundário.
Por seu lado, ao ensino
público tem competido mais, desde sempre, a definição dos conteúdos do ensino, os mecanismos de controlo deste
sistema, em detrimento das preocupações sobre expansão e omnipresença, que têm
continuado muito entregues à iniciativa privada.
A assumpção desta incapacidade,
por parte do poder central, se o Estado não podia criar as suas próprias
escolas, ele teria/deveria, tanto quanto possível isentar as escolas privadas
de certas taxas e impostos, e criar “formas” de apoiar, de uma ou outra forma, o
financiamento do ensino privado.
A tensão inevitável entre o
Estado, responsável por - garantir um acesso universal, a escola padrão, um ensino
tendencialmente gratuito e manter-se como supervisor - assegurando assim a igualdade
para todos perante o modelo de ensino, um acesso universal de qualidade e as
suas limitadas capacidades financeiras, emergiu e está para ficar!
Será que nos vai conduzir à vitória
dos princípios do ensino privado, e à derrota da modelo de ensino da escola
pública?
Não acho, porque a querela sobre
educação pública e privada, qual a que deve ser preferida ou preterida, que se reacende, de vez
em quando, não é senão uma discussão sobrevivente de décadas.
O verdadeiro debate, entre modelos de ensino a seguir devia situar-se mais
nas questões de equidade, competência e eficiência e menos nas questões financeiras.
Não se trata de viabilizar uns e “matar/extinguir” os outros.
A
educação é e será sempre o espelho de um País, todos são necessários e importantes!
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